As festas juninas no Nordeste brasileiro representam um dos mais ricos e complexos encontros entre religião, cultura popular, identidade regional e tradição alimentar. Para além da celebração festiva, as comemorações de São João, São Pedro e Santo Antônio carregam significados antropológicos profundos, sendo expressões vivas da formação histórica e cultural da região.
Com origens europeias, trazidas pelos colonizadores portugueses, as festas juninas foram inicialmente celebrações católicas em homenagem a santos. No entanto, ao se enraizarem no Nordeste, passaram por um intenso processo de ressignificação, absorvendo elementos indígenas e afro-brasileiros. Assim, transformaram-se em manifestações autênticas da cultura nordestina, refletindo os saberes, as crenças e os modos de vida do povo.
Diversas expressões típicas das festas juninas surgiram a partir dessa mescla cultural. As fogueiras, por exemplo, além de sua função simbólica cristã de anunciar o nascimento de São João, dialogam com antigas práticas indígenas de celebração e purificação. Já as danças de quadrilha, originalmente inspiradas nos bailes europeus (quadrilles), foram apropriadas pelo povo nordestino, ganhando novas roupagens por meio da linguagem regional, das vestimentas caipiras e da musicalidade própria, embalada pelo forró e pelo baião, estilos imortalizados por artistas como Luiz Gonzaga.
Foto:Reprodução
Outro reflexo dessa ressignificação cultural está na culinária típica das festas. O milho, base da alimentação indígena desde tempos ancestrais, assume papel central nas receitas juninas. Ao mesmo tempo, doces caramelizados como o pé de moleque e o pé de moça revelam influências da doçaria portuguesa, adaptadas à realidade local com o uso de ingredientes regionais, como o amendoim.
No campo simbólico, as festas juninas marcam o encerramento da colheita do milho, produto central na alimentação e na economia das comunidades rurais do Nordeste. Por isso, a culinária junina é um verdadeiro patrimônio alimentar da região, celebrando o milho como protagonista em pratos como pamonha, canjica, bolo de milho, milho cozido e assado, além de iguarias como a cocada e bolo de macaxeira.
As fogueiras, as quadrilhas, as roupas típicas e as músicas compõem o universo estético e sensorial da festa, recriando um ambiente de celebração rural mesmo em contextos urbanos. Nesse cenário, a Festa Junina funciona como um elo de pertencimento cultural, resistência e afirmação da identidade nordestina, atravessando gerações e reafirmando os valores coletivos em torno da partilha, da alegria e da valorização das raízes.
E dentre todas as delícias que compõem essa identidade alimentar da culinária junina, destaca-se o Pé de Moça, uma releitura mais macia e cremosa do tradicional pé de moleque. A seguir, compartilho a receita do Pé de Moça, publicada no meu perfil no Instagram (@amandhassilveira), para quem deseja experimentar essa delícia:
Receita de Pé de Moça
Ingredientes:
150g de açúcar
2 colheres de sopa de manteiga gelada
300g de amendoim torrado
395g de leite condensado
Modo de preparo:
Derreter o açúcar até formar um caramelo, adicionar a manteiga gelada. Misturar até derreter a manteiga e homogeneizar. Acrescentar o amendoim. Envolver o amendoim no caramelo e adicionar o leite condensado. Mexer até desgrudar da panela. Transferir o doce para um refratário untado e deixar esfriar. Cortar em cubos e servir.
Essa receita resgata a tradição e, ao mesmo tempo, traz um toque contemporâneo à mesa junina, mantendo viva a relação entre alimento, memória e celebração.
Link: https://www.instagram.com/reel/C8sTZbJJDsX/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MWxhejRxc2t6NjJubA==
Por Amandha Silveira – Chef de Cozinha e colunista de gastronomia
Instagram: @amandhassilveira | www.amandhasilveira.com.br
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