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Notas de Sabor

Tabus gastronômicos e superstições à Mesa: Entre crenças e sabores

Crenças populares e tradições culturais revelam como o ato de comer está cercado de significados que vão além da nutrição

A alimentação, em todas as suas formas e culturas, sempre carregou consigo significados simbólicos, crenças e até superstições, que influenciaram profundamente a relação das pessoas com os alimentos. Desde a Antiguidade até os tempos modernos, diversas superstições gastronômicas surgiram, muitas das quais ainda estão presentes no nosso cotidiano — seja à mesa, na preparação ou até na escolha dos ingredientes.

Essas superstições alimentares surgiram como uma maneira de entender o mundo e se proteger de forças invisíveis. Em muitas culturas, certos alimentos foram associados a poderes mágicos ou divinos. Na Idade Média, por exemplo, acreditava-se que alguns alimentos poderiam curar doenças ou afastar o mal. O alho, tão comum em nossas cozinhas, era considerado um amuleto poderoso contra espíritos malignos e até contra vampiros. Ao mesmo tempo, o uso de pimenta e ervas aromáticas na culinária medieval tinha uma forte conotação de proteção espiritual.

Além dos alimentos, o simples ato de colocar a mesa está impregnado de crenças que vão muito além da estética. Por exemplo, é comum evitar colocar chapéus sobre a mesa, pois acredita-se que isso atrai má sorte. Outra superstição popular é a de que derrubar o saleiro traz azar. Para espantar essa má sorte, diz-se que é necessário jogar uma pitada de sal por cima do ombro esquerdo, um gesto antigo para afastar maus presságios. A crença de que derramar sal traz azar pode ter origem na Roma Antiga, onde o sal era uma especiaria de grande valor e uma mercadoria rara, simbolizando poder e riqueza.


Foto: Amandha SilveiraA alimentação também está associada a pratos e rituais específicos para atrair prosperidade e harmonia. Comer 12 uvas à meia-noite na virada do ano é uma simpatia popular para atrair dinheiro, amor e sorte. Além disso, há a tradição de comer 7 sementes de romã e guardar a casca da fruta na carteira ou bolsa durante o ano, acreditando que isso trará boa sorte e prosperidade.

No Brasil, um dos tabus mais conhecidos envolve a combinação de manga com leite. Originada nos tempos da escravidão, dizia-se que a mistura era perigosa, causando intoxicação. No entanto, essa crença serviu também como uma ferramenta de controle social. Senhores de fazenda espalhavam a ideia de que o consumo noturno dos dois juntos poderia ser fatal, com o objetivo de evitar que os escravos utilizassem livremente os frutos. Na realidade, os nutrientes presentes tanto na manga quanto no leite tornam essa combinação uma escolha saudável e nutritiva.

Outro tabu popular é a crença de que comer bolo quente causa dor de barriga. Esse mito é mais uma questão cultural do que uma realidade científica. O desconforto está mais relacionado à ingestão rápida ou em grandes quantidades do que à temperatura do alimento, já que esse efeito não se limita a essa combinação. O calor do bolo pode, sim, causar um desconforto momentâneo se consumido rapidamente, mas o real fator de desconforto digestivo está mais relacionado ao hábito de comer em excesso.

Esses tabus e superstições revelam um fascinante mundo de tradições, espiritualidade e identidade cultural. Elas moldaram e continuam a moldar nossas práticas alimentares, mostrando que a comida vai muito além de seu valor nutricional — ela é carregada de histórias, símbolos sociais e culturais.

É importante destacar que os tabus e superstições gastronômicas são fenômenos distintos dos aspectos culturais ou religiosos relacionados à alimentação, como o jejum no Ramadã e na Quaresma ou o conceito de Yin e Yang da filosofia chinesa, por exemplo. Embora ambos estejam ligados à alimentação, enquanto as superstições frequentemente carecem de base científica, os rituais religiosos e culturais têm raízes profundas nas tradições espirituais, na filosofia e nas convicções de fé de um povo. Esses rituais visam não só à preservação de valores espirituais, mas também ao fortalecimento da conexão com o divino, o autocontrole e os princípios fundamentais de uma determinada cultura ou religião.

E você, tem alguma superstição gastronômica? Compartilhe suas experiências, vamos conversar mais sobre esse tema tão rico e interessante.

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