Na gastronomia, costumamos falar de aromas, sabores e experiências, mas existe um aspecto invisível que deveria ser inegociável: a segurança alimentar. Sem ela, qualquer prato ou bebida pode se transformar em ameaça. Os últimos dias trouxeram exemplos preocupantes, que mostram como esse tema ainda é frágil.
Em São Paulo, bebidas alcoólicas adulteradas com metanol resultaram em casos de intoxicação e até mortes confirmadas. Em outros episódios, queijos contaminados por Listeria monocytogenes chegaram ao mercado, e lotes de café precisaram ser recolhidos após a presença de fragmentos de vidro ser detectada. Cada caso, por mais distinto que pareça, evidencia a mesma realidade: a confiança do consumidor depende de controles rígidos que, quando falham, expõem a população a riscos graves.
Foto: DivulgaçãoO metanol, usado ilegalmente em destilados para baratear custos, é um veneno capaz de causar da cegueira irreversível à morte. A Listeria, por sua vez, cresce mesmo em temperaturas de geladeira e pode ser fatal para gestantes, idosos e pessoas imunocomprometidas. Já as contaminações físicas, como vidro em embalagens, representam perigo imediato de lesões e intoxicações. O que une esses incidentes é a vulnerabilidade da cadeia produtiva e a dificuldade de conter práticas clandestinas e falhas de fiscalização.
É verdade que o consumidor pode adotar medidas preventivas, como verificar a integridade das embalagens, desconfiar de preços muito baixos, exigir nota fiscal e denunciar produtos suspeitos às autoridades competentes. Mas a maior responsabilidade não recai sobre quem compra, e sim sobre quem produz e comercializa. Empresas do setor de alimentos e bebidas têm o dever de assegurar a rastreabilidade dos fornecedores, realizar análises laboratoriais frequentes e manter rigor nos processos de armazenamento e manipulação. Ignorar esse compromisso não compromete apenas a reputação de uma marca, mas a própria saúde de milhares de pessoas, além de gerar recalls, perdas financeiras e responsabilização judicial.
Foto: DivulgaçãoNesse cenário, o papel dos órgãos reguladores é crucial. ANVISA, MAPA, Ministério da Saúde e Procons estaduais estabelecem normas, conduzem fiscalizações e emitem alertas à sociedade. No entanto, a recorrência de casos mostra limitações estruturais, desde a escassez de recursos até a dificuldade em enfrentar produtores ilegais. A integração entre as agências, o compartilhamento rápido de informações e a aplicação de penalidades exemplares são caminhos urgentes para impedir que situações semelhantes se repitam.
Mais do que um tema técnico, a segurança alimentar é uma questão ética e social. Garantir alimento seguro é compromisso coletivo. Os episódios recentes evidenciam que a segurança alimentar não depende de um único elo, mas da cooperação entre consumidores atentos, empresas responsáveis e reguladores eficientes.
Ao fortalecer a fiscalização, garantir transparência na cadeia de suprimentos e conscientizar o público, é possível reduzir riscos de adulteração e contaminação, protegendo vidas e preservando a confiança no setor alimentício.
Por Amandha Silveira – Gastróloga, Sommeliére e colunista de gastronomia
Instagram: @amandhassilveira | www.amandhasilveira.com.br
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