Em um cenário onde a gastronomia se moderniza em ritmo acelerado, as cozinhas profissionais tornaram-se verdadeiros centros de alta performance. Equipamentos de última geração, sistemas digitais e automações transformam o modo de cozinhar e gerir um restaurante.
Em artigos anteriores da coluna, abordamos que a qualificação profissional na gastronomia não se resume à técnica pura, mas à formação que integra teoria, prática, gestão e sensibilidade. O setor de alimentação fora do lar expande, e cresce também o imperativo de ter profissionais bem preparados para atender a esse novo patamar de exigência. Agora, essa qualificação se cruza com a tecnologia — não para substituí-la, mas para potencializá-la.
Ter a habilidade de operar máquinas inteligentes ou gerir sistemas automatizados é, sem dúvida, parte do repertório atual. Contudo, a essência da boa cozinha passa pela inteligência situacional: o forno que falha em plena noite de casa cheia, o sistema de exaustão que decide dar pane no meio do serviço, o prato que exige decisão imediata fora da ficha técnica. É nesses momentos que se revela quem realmente está preparado.
Foto: Internet/Feepink
As publicações anteriores da coluna também lembram que a tecnologia — seja por meio de equipamentos, softwares, automações ou inteligência de dados — é uma aliada, mas não pode descaracterizar o “toque humano”. Como ressaltado pelo chef Laurent Suaudeau em entrevista recente que o sucesso de um restaurante depende do trabalho coletivo e da sensibilidade da equipe. Logo, a automação que busca eficiência, atendimento personalizado e experiência digital exige infraestrutura, capacitação contínua e, sobretudo, permanece dependente de quem está por trás dela. Na prática, isso significa que um chef ou gestor deve saber:
Interpretar dados de consumo e adaptar o cardápio;
Agir rapidamente quando a máquina trava;
Garantir a manutenção preventiva de equipamentos;
Manter a equipe focada, mesmo diante de imprevistos;
Preservar a essência do ofício — o sabor, a emoção, a cultura.
E isso nos leva a uma reflexão sobre a interseção entre qualificação profissional e tecnologia: a formação de um cozinheiro ou gestor moderno exige dominar o método, conhecer bem os ingredientes, compreender o negócio, mas também cultivar o olhar atento e o espírito resolutivo. Conforme destacado anteriormente, “a qualificação profissional na gastronomia exige uma combinação de formação técnica, experiência prática, criatividade e adaptabilidade.” Esta combinação agora inclui a capacidade de administrar a tecnologia sem depender exclusivamente dela.
Por isso, numa cozinha contemporânea, quando se fala em qualificação profissional, é preciso ampliar o conceito. Não basta treinar a operação dos equipamentos — é fundamental entender o porquê de cada ação, o impacto das decisões no resultado final e a importância das manutenções preventivas. Um forno inteligente não resolve um serviço mal planejado, assim como uma ficha técnica impecável não substitui o trabalho de equipe. A tecnologia é ferramenta, amplia o alcance, mas não elimina o imprevisto — e aí o elemento humano entra em cena. A equipe, a liderança, a comunicação, a cultura organizacional — todos se tornam peças fundamentais.
O chef Laurent Suaudeau bem observa que um restaurante vende serviço, e que apesar da tecnologia, na gastronomia, o fazer humano ainda é importante. Logo, cozinhar ainda é e será sempre um ato profundamente humano. A cozinha contemporânea exige profissionais com raciocínio crítico, capazes de operar máquinas sofisticadas e, ao mesmo tempo, de manter vivo o gesto artesanal que sustenta a gastronomia desde suas origens.
Por trás de cada comando digital e cada equipamento sofisticado, permanece o mesmo propósito: satisfazer, emocionar e comunicar por meio do sabor. A tecnologia ajuda a contar essa história, mas quem realmente a vive e compartilha é o profissional com visão, técnica e alma.
Links:
https://bandpiaui.com.br/blogs/notas-de-sabor/qualificacao-profissional-na-gastronomia-desafios-e-oportunidades-9449.html
https://bandpiaui.com.br/blogs/notas-de-sabor
Por Amandha Silveira – Gastróloga, Sommeliére e colunista de gastronomia
Instagram: @amandhassilveira | www.amandhasilveira.com.br
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