Os Estados Unidos anunciaram uma tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros — como café, açúcar orgânico, frutas e carne (com exceção do suco de laranja). A medida, que entra em vigor em 6 de agosto de 2025, representa uma mudança significativa nas relações comerciais entre os dois países e já gera preocupação no mercado e entre especialistas, que alertam para os possíveis impactos na economia brasileira.
Num primeiro momento, a medida pode parecer vantajosa para o consumidor brasileiro. Com a exportação dificultada, o excedente tende a ficar no mercado interno, reduzindo temporariamente os preços. No entanto, essa sensação de “alívio” é ilusória e passageira.
A queda nas exportações para um dos maiores mercados do mundo impacta diretamente a renda dos produtores brasileiros. Com lucros menores, os investimentos em tecnologia, infraestrutura e expansão tendem a cair, reduzindo a produção e desorganizando a cadeia produtiva — do campo ao transporte e à exportação. Como resultado, o que hoje é abundante e barato pode se tornar escasso e caro no futuro. A inflação sobre alimentos e produtos básicos se torna uma ameaça real, comprometendo a estabilidade econômica e social, especialmente em regiões altamente dependentes do agronegócio.
Por outro lado, a taxação também afeta o consumidor americano. Com os produtos brasileiros mais caros, as importações devem diminuir. Nesse cenário, os EUA podem seguir três caminhos: estimular a produção local, buscar novos fornecedores ou aceitar uma redução na oferta desses itens no mercado. Se as duas primeiras opções não forem suficientes para suprir a demanda, os preços devem subir. Com a oferta reduzida e a demanda estável, o consumidor americano acabará pagando mais caro por produtos que antes eram acessíveis, o que impacta seu poder de compra e eleva o custo de vida.
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É verdade que o Brasil pode — e deve — buscar novos mercados para seus produtos. No entanto, substituir um parceiro como os Estados Unidos, um dos maiores e mais consolidados compradores do país, não é simples nem imediato. Essa transição exige tempo, negociações diplomáticas, adequações logísticas e o cumprimento de diferentes exigências sanitárias e regulatórias.
Enquanto esses novos acordos não são firmados, a economia brasileira sente os efeitos: menos exportações significam menos entrada de divisas, queda na receita dos produtores e enfraquecimento de toda a cadeia produtiva. Com isso, os investimentos diminuem, empregos são cortados e a atividade econômica se retrai em setores-chave.
Além disso, novos mercados não garantem os mesmos volumes nem preços competitivos. Muitas vezes, oferecem menor demanda, impõem mais barreiras ou pagam menos, pressionando ainda mais os produtores, que já enfrentam alta concorrência global.
Portanto, embora a diversificação de mercados seja uma saída estratégica de médio e longo prazo, no curto prazo os impactos negativos sobre a economia são reais e significativos — e podem persistir até que novos fluxos comerciais estejam plenamente operacionais.
Dessa forma, o “tarifaço” não é apenas uma medida de política comercial, mas um gatilho com repercussões amplas e profundas, afetando desde o café da manhã dos brasileiros até a economia das gôndolas nos supermercados norte-americanos. A medida acende um alerta sobre os riscos de decisões unilaterais em um mundo economicamente interdependente, onde o impacto de uma política ultrapassa fronteiras e retorna, muitas vezes, em forma de consequências imprevistas.
Por Amandha Silveira – Gastróloga, Sommeliére e colunista de gastronomia
Instagram: @amandhassilveira | www.amandhasilveira.com.br
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