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Notas de Sabor

Nos bastidores da cozinha: Um olhar além da Toque Blanche

Uma Reflexão sobre os Bastidores da Cozinha Profissional no Dia Nacional do Chefe de Cozinha

Na superfície, a cozinha profissional é um palco vibrante de aromas, sabores e criações que encantam o paladar. Mas é nos bastidores que se desenrola o verdadeiro espetáculo da gastronomia. O Dia Nacional do Chefe de Cozinha, celebrado em 13 de maio, oferece uma oportunidade privilegiada para discutir não apenas os méritos técnicos e criativos desses profissionais, mas também os marcadores sociais que historicamente estruturam as dinâmicas de trabalho nas cozinhas profissionais e refletir sobre os caminhos trilhados, as barreiras superadas — e as que ainda resistem.

Durante muito tempo, o universo das grandes cozinhas foi tratado como um território exclusivamente masculino. Embora o ato de cozinhar esteja historicamente associado às mulheres, esse vínculo foi confinado ao espaço doméstico — considerado uma extensão do cuidado e da obrigação feminina. Já a cozinha profissional, palco de prestígio e reconhecimento, foi moldada sob uma lógica que privilegiava o olhar masculino, afastando tudo o que remetesse à feminilidade.

O paradoxo é evidente: o dito popular “lugar de mulher é na cozinha” escancara uma associação enraizada, mas que exclui essas mesmas mulheres quando a cozinha se torna sinônimo de status e carreira. Ainda hoje, mesmo com avanços visíveis, muitas cozinheiras são destinadas aos setores menos prestigiados da brigada, enquanto os holofotes e os prêmios recaem majoritariamente sobre nomes masculinos.


Foto: Amandha Silveira

Contudo, esse cenário tem passado por mudanças significativas. Cada vez mais, mulheres chefs vêm se destacando por sua competência técnica, criatividade e capacidade de liderança, atuando com protagonismo em restaurantes, na mídia televisiva, em empreendimentos autorais e em eventos gastronômicos de prestígio. Sua presença reafirma que a cozinha profissional deve ser um espaço de equidade, onde o talento independe de gênero.

Essa transformação não é apenas simbólica. É também uma conquista social que revela como o olhar de gênero pode e deve ser uma lente importante para compreender e transformar a gastronomia. Romper com a ideia de que homens “criam” na cozinha enquanto mulheres apenas “alimentam” é um passo essencial para uma cultura gastronômica mais justa, diversa e inclusiva.

Celebrar o Dia Nacional do Chefe de Cozinha, portanto, é mais do que aplaudir pratos bem executados ou reconhecer apenas o trabalho visível dos grandes nomes da gastronomia, é reconhecer também os bastidores onde se forjam identidades, lutas e trajetórias invisibilizadas. É reconhecer a história de quem cozinha com alma, enfrentando jornadas exaustivas, ambientes muitas vezes hostis e desigualdades que ainda persistem. É dar visibilidade às vozes que durante muito tempo ficaram nos bastidores — especialmente as femininas.

Que esse dia seja, então, uma homenagem a todos os que fazem da cozinha um espaço de arte, mas também de resistência, de afeto e de transformação social. Porque nos bastidores da gastronomia, muito mais do que técnicas e receitas, pulsa a luta por reconhecimento, igualdade e respeito.

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